Eu
estava pensando em postar aqui, alguns capítulos de uma das historias que estou
escrevendo. Devo de avisar que a historia não é autobiográfica, senão uma
ficção, OK? O nome da protagonista é Marta. Ainda não tenho um título
definitivo, mas já tenho um começo...
Capítulo I: O fim da
depressão
Passei por uma depressão não muito longa. Que bom, verdade?
Quero dizer, pelo fato de não ter durado muito, é claro. Fiz varias sessões de
terapia e isso me ajudou bastante.
Mas quero deixar bem claro que não vou falar do meu
sofrimento nem reclamar atoa, somente quando for indispensável - porque
todo mundo sente a necessidade de compartir a sua dor de vez enquanto. Vou me
dar o luxo de não contar, por enquanto, como entrei nesse período tão... Não
encontro a palavra correta. Bom, deixa pra lá, talvez depois eu consiga definir
o que eu senti em algum outro momento.
Uma vez escutei uma frase que ignorara, mas no momento de
desespero serviu-me como válvula de escape: "As pessoas não sabem como
sofrer, elas não tratam a sua dor: querem estar sozinhos. A sociedade deveria
de praticar a empatia". Foi uma frase de uma senhora de idade avançada que
se suicidou depois de perder o marido, - que fora atropelado por uma moto -
ironia, não é? O pior é que essa mulher era a minha tia, e eu a amava - nós
vivíamos tão perto. Tia Ofélia era minha confidente e um doce de pessoa.
Chorei pela perda durante semanas. Meu marido não
compreendia o porquê de tantas lágrimas, Nilton nunca soube me entender - ele
nunca entendeu ninguém. Não sabia interpretar os sentimentos, me largou em
plena depressão.
Nenhuma pessoa me apoiou. Mas eu devo de ter em conta que
vivo longe da família.
Acordei pela manhã estressada pelo barulho do transito.
Odeio isso: acordar de mal humor.
Enquanto tomava café da manhã sozinha, sentia a falta
daquele idiota do Nilton. "BOCÓ! Você me deixou, agora sofre!" pensei
em alto, frustrada. Supõe-se que quando uma mulher se livra de um cara e fica
solteira, ela é livre. "Livre de que, ein? Das cuecas pra lavar, dos
roncos, da bagunça... GRANDE MERDA! Prefiro a companhia do lerdo do
Nilton.", outra vez o pensamento que deveria de estar somente na, minha
cabeça ecoa pela cozinha.
Falar sozinha pode ser um sintoma de loucura.
Ou um sinal de mulher desesperada. E sim, eu admito que
estava desesperada. Estava.
Tive a ideia de olhar algumas caixas, pra poder passar o
tempo. Dia de domingo - pela tarde - é sempre um tédio, e a grande caixa que a
mamãe deixara em casa era um tipo de entretenimento. Ela falou que ali estavam guardadas
algumas coisas que poderiam me interessar - mas nunca cheguei perto daquilo e
nem pensei em abrir, porque estava ocupada fazendo outras coisas - como lavar
as cuecas do Nilton (tenho que admitir que isso foi sarcasmo). Ali dentro tinha
um álbum de fotos da família, e algumas dos meus primos; objetos pessoais da
vovó e do vovô, como um espelho de mão antigo e coisas pelo estilo; algumas
roupas minhas de quando eu era pequena, de quando eu tinha uns três anos ou
menos - não precisei herdar a vestimenta dos meus irmãos, sendo a única mulher
entre três homens, minhas roupas eram "exclusivas" - e finalmente as
cartas da minha tia Ofélia colocadas a um cantinho da caixa.
A única coisa que não entendi é que a receptora das cartas
era eu. Observei a textura e cor dos papeis, bem antigos por certo, dentro da
caixa havia um bilhete - daquela cor amarela chamativa - que informava a data
de entrega: 14/05/1988, eu tinha somente cinco anos na época, porém o bilhete
não parava por ai, dizia também: "Entregar quando for preciso".
Separei o papelzinho e observei as cartas e os cartões postais empilhados e
envoltos por uma liga de plástico, que romperia em qualquer momento.
Estava curiosa para saber o que continha dentro dos
pequenos envelopes. E como previra a liga rompeu-se com facilidade. Abri a
primeira carta.
"Oi linda! Sei que você esta bem, nem preciso
perguntar. O meu docinho já deve de estar bem maior, não é?"...
Não consegui ler o seguinte, porque estava chorando.